sábado, 9 de março de 2013

Quem se comporta como jovem envelhece mais lentamente


Segundo cientistas de Harvard, o corpo responde à mente quando se trata de idade

idosa forte
(Pixland)
Ao final do experimento, as condições de saúde dos idosos foram comparadas àquelas de pessoas três anos mais jovens
Uma descoberta científica promete substituir os cremes de rejuvenescimento da sua prateleira. Segundo cientistas da Universidade americana de Harvard, para envelhecer mais lentamente basta manter a mente sempre jovem. Em experimentos, pessoas que se vestiam, pensavam e comportavam como mais jovens do que sua idade apresentaram uma saúde superior à esperada para sua faixa etária.

O teste realizado pelos pesquisadores funcionou mais ou menos como uma “máquina do tempo”. Por uma semana, homens idosos foram “transportados” de volta para 1959. A decoração de suas casas, a programação de TV, as músicas: tudo foi ajustado enquanto os voluntários eram estimulados a agir como se estivessem vivendo novamente naquele tempo.

Ao final do experimento, as condições de saúde dos idosos foram comparadas às de pessoas três anos mais jovens. Sua audição e visão melhoraram, as articulações estavam mais flexíveis, os músculos mais fortes e a mente mais rápida. Tudo isso aconteceu sob os olhares de milhares de expectadores, no reality show “The Young Ones” (Os jovens, em português).

Ellen Langer, autora do estudo, escreveu na publicação Journal Perspectives on Psychological Science que muitos aspectos de nosso envelhecimento estão relacionados a percepções negativas que temos sobre nossa idade. E mudar essas percepções leva a ganhos de saúde.

Um outro estudo, dessa vez com mulheres, atingiu conclusões que parecem reforçar a dos pesquisadores de Harvard. Nele, mulheres cujos cabelos eram cortados e tingidos não só se sentiam mais jovens quanto apresentavam melhor pressão sanguínea.

Há, contudo, quem duvide da seriedade das descobertas, como o professor de psicologia da Universidade de Lancaster, Cary Cooper, que disse ao periódico britânico Daily Mail que elas não passam de senso comum. Para ele, o “rejuvenescimento” se deve às mudanças de comportamento dos voluntários que, se sentindo mais jovens, passam a exercitar mais seus corpos e suas mentes.

Os prejuízos de dormir pouco


Os prejuízos de dormir pouco

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Diminui a capacidade de o corpo queimar calorias

De acordo com uma pesquisa apresentada no encontro anual da Sociedade para Estudo de Comportamento Digestivo (SSIB, sigla em inglês), em julho de 2012, na Suíça, a restrição do sono faz com que um indivíduo consuma mais calorias e, além disso, reduz a capacidade do corpo de queimá-las. Isso ocorre porque dormir pouco aumenta os níveis de grelina, o ‘hormônio da fome’, conhecido assim por induzir a vontade de comer, na corrente sanguínea. Além disso, o hábito promove um maior cansaço, reduzindo a prática de atividades físicas e aumentando o tempo de sedentarismo.

Eleva o risco de câncer de mama agressivo

Um estudo publicado em agosto de 2012 no periódico Breast Cancer Research and Treatment sugeriu que dormir menos do que seis horas por dia eleva o risco de mulheres na pós-menopausa terem um tipo agressivo de câncer de mama e uma maior probabilidade de recorrência da doença.

Aumenta as chances de um derrame cerebral

Dormir menos do que seis horas por dia aumenta o risco de um acidente vacular cerebral (AVC) mesmo em pessoas com peso normal e sem histórico de doenças cardiovasculares, segundo um estudo apresentado em junho de 2012 no encontro anual das Sociedades de Sono Associadas (APSS, na sigla em inglês), na cidade americana de Boston.

Aumenta o apetite por comidas gordurosas

Dormir pouco ativa de maneira diferente os centros de recompensa do cérebro com a exposição a alimentos gordurosos em comparação com dormir adequadamente. Isso faz com que esses alimentos pareçam mais salientes e que a pessoa se sinta mais recompensada ao comer esse tipo de alimento. Essas descobertas foram apresentadas em junho deste ano no encontro anual das Sociedades de Sono Associadas (APSS, na sigla em inglês), na cidade americana de Boston. Além disso, uma pesquisapublicada em janeiro deste ano indicou que noites de sono mal dormidas ativam com mais intensidade uma área do cérebro responsável pela sensação de apetite.

Pode desencadear sintomas do TDAH

Segundo um estudo apresentado em junho de 2011 durante encontro das sociedades médicas para o sono, nos Estados Unidos, menos horas de sono podem desencadear problemas com hiperatividade e desatenção durante o começo da infância. Esses são sintomas comuns do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Eleva o risco de impotência sexual

A 25ª Reunião Anual da FeSBE (Federação de Sociedades de Biologia Experimental), em agosto de 2010, trouxe uma pesquisa que relacionou a falta de sono e o problema sexual. De acordo com o trabalho, feito na Unifesp, além do maior risco de impotência, homens que dormem pouco têm maiores chances de desenvolver problemas cardiovasculares e de engordar.

Pode levar à obesidade

Um estudo apresentado em outrubro de 2011 no Encontro Anual do American College of Chest Physicians, mostrou que jovens que dormem menos de sete horas por dia têm índice de massa corporal (IMC) maior, e que isso pode estar relacionado diretamente com os hormônios grelina e leptina, que regulam as sensações de fome e saciedade.





Estudo encontra relação entre insônia e maior risco de insuficiência cardíaca


Pesquisa avaliou mais de 50.000 pessoas e chegou à conclusão de que a falta de sono pode mais do que triplicar o risco do problema cardíaco

Mulher com insônia
Insônia: Problema aumenta a prevalência de insuficiência cardíaca, diz estudo (Getty Images)
Pesquisadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia encontraram uma relação entre sintomas relacionados à insônia, como dificuldades para dormir e manter o sono, e uma maior prevalência de insuficiência cardíaca. Os resultados mostraram que ter insônia pode triplicar o risco de uma pessoa sofrer desse problema cardíaco — e que o quadro pode ser ainda pior caso o indivíduo também apresente ansiedade ou depressão.

Saiba mais

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Pode acontecer em decorrência de qualquer doença que afete diretamente o coração. Acontece quando o coração bombeia o sangue de maneira ineficaz, não conseguindo satisfazer a necessidade do organismo, reduzindo o fluxo sanguíneo do corpo ou a uma congestão de sangue nas veias e nos pulmões. A insuficiência faz com que os músculos dos braços e das pernas se cansem mais rapidamente, os rins trabalhem menos e a pressão arterial fique baixa. A função do coração é bombear o sangue para o corpo e, depois, tirar o sangue das veias. Quando o coração bombeia menos sangue do que o normal, há uma fração de ejeção reduzida. Quando o coração enfrenta dificuldades em receber o sangue novamente, trata-se de uma fração de ejeção preservada, ou insuficiência cardíaca com dificuldade de enchimento do coração. Embora possa acometer pessoas de todas as idades, é mais comum em idosos. Atinge uma média de uma a cada 100 pessoas.
A pesquisa, publicada nesta terça-feira no periódico European Heart Journal, porém, não encontrou uma explicação para tal relação e nem concluiu se, de fato, trata-se de uma associação causal. Ou seja, esses resultados ainda não são suficientes para afirmar que a insônia causa diretamente insuficiência cardíaca, mas sim mostram que a doença cardíaca foi mais prevalente entre quem apresentava sintomas de insônia do que entre pessoas sem o problema.
Participaram do estudo 54.279 pessoas de 20 a 89 anos de idade. Elas começaram a ser avaliadas entre 1995 e 1997 e, no início da pesquisa, nenhuma delas apresentava insuficiência cardíaca. Os autores acompanharam os participantes até 2008. Ao longo do período do estudo, os pesquisadores observaram se os indivíduos apresentavam três sintomas da insônia: dificuldade para dormir, dificuldade para manter o sono e não ter a sensação de estar descansado após uma noite de sono. Para isso, os participantes respondiam a questionários dizendo se sofriam desses problemas e, se sim, com que frequência. De 1995 a 2008, o estudo registrou 1.412 casos de insuficiência cardíaca.
Soma de sinais — De acordo com a pesquisa, os participantes que relatavam sofrer dos três sintomas simultaneamente e com mais frequência foram aqueles que apresentaram o maior risco de insuficiência cardíaca — uma chance 3,5 maior em comparação com indivíduos que não apresentavam nenhum sinal de insônia. Essas pessoas tinham dificuldades para dormir e manter o sono quase todas as noites, e acordavam sem a sensação de ter descansado mais de uma vez na semana. 
Esses resultados foram obtidos após os autores do estudo levarem em consideração uma série de fatores que podem interferir tanto na insônia quanto no risco de insuficiência cardíaca, como idade, sexo, nível de escolaridade, carga horária de trabalho, pressão arterial, níveis de colesterol no sangue, diabetes, peso, atividade física, tabagismo, álcool, depressão, ansiedade e ataque cardíaco. Quando os pesquisadores resolveram olhar para as pessoas que, além de insônia frequente, também apresentavam depressão e ansiedade, o risco de insuficiência cardíaca foi 4,2 maior em relação às pessoas que não tinham dificuldades para dormir. 
Segundo os autores do trabalho, ainda não é possível dizer que a insônia foi a responsável por desencadear insuficiência cardíaca nos participantes, mas, se for, “a insônia é uma condição potencialmente tratável. Assim, a avaliação de distúrbios do sono pode promover mais informações capazes de serem usadas na prevenção de insuficiência cardíaca”, escreveram os autores no estudo. "Ainda não está claro por que a insônia é associada a um maior risco de insuficiência cardíaca. Temos algumas indicações de que pode haver uma causa biológica, e uma possível explicação poderia ser que a insônia ativa respostas ao estresse no corpo que podem afetar negativamente a função cardíaca.”
Hipóteses — "A relação de insônia com doenças cardiovasculares nunca recebeu a devida atenção, embora saibamos que pacientes com doenças crônicas apresentam uma tendência maior a problemas do sono. É difícil separar uma coisa da outra", afirmou Edimar Bocchi, cardiologista e chefe de Insuficiência Cardíaca do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP (Incor).
Para ele, o estudo é importante, mas também é limitado pois não responde se a insônia é um fator causador ou marcador da insuficiência cardíaca. Ou seja, se dormir mal causa a condição ou se a insônia indica a predisposição de uma pessoa a problemas cardíacos que podem levar à insuficiência. "Pode ser que a insônia seja como a febre. A febre não é a causadora de uma infecção, mas sim um marcador de que esse processo está acontecendo", disse Bocchi ao site de VEJA. 
Dalva Poyares, neurologista

Especialista responde

Dalva Poyares
Neurologista do Instituto do Sono e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

“O paciente com insônia não deve se apavorar com esse estudo, pois ele não mostra que a insônia causa diretamente a insuficiência cardíaca. Sabemos que a apneia do sono, sim, é um fator de risco ao coração, assim como dormir pouco e viver sob muito stress, por exemplo. E essas condições podem acompanhar a insônia.
Portanto, se a insônia está relacionada a uma maior prevalência de insuficiência cardíaca, ela não é um fator de risco isolado. Uma pessoa com insônia tende a dormir pouco, e sabemos que, a longo prazo, poucas horas de sono pode ser um fator de risco para doenças cardíacas. E, além disso, doenças cardíacas podem acabar levando a uma falência do coração. Pode ser também que um indivíduo com insônia seja mais suscetível ao stress, e o stress pode causar tanto problemas de sono quanto cardíacos. Mesmo assim, a insônia nunca será mais perigosa ao coração do que tabagismo, colesterol alto, pressão arterial elevada e apneia do sono.
É preciso lembrar que uma pessoa doente ou predisposta a alguma doença tende a dormir mal. Então, em um caso como esse, é possível que o indivíduo com insônia já apresente algum problema cardíaco e devido a ele, e não à insônia, ele desenvolva insuficiência cardíaca.
A insuficiência cardíaca não aparece do nada e o estudo considerou pessoas com sintomas de insônia apenas no mês anterior ao estudo. A pesquisa é bem feita, mas o ideal seria que um estudo acompanhasse pessoas com insônia ao longo de vários anos. Hoje em dia, consideramos que um paciente tem insônia crônica quando ele apresenta sintomas do problema há pelo menos seis meses.”

Estudo liga morte prematura ao consumo de carnes processadas


De acordo com pesquisadores, o risco aumenta 18% para cada 50 gramas consumidas desse alimento

Carne processada
Estudo mostra que 3% das mortes prematuras poderiam ser evitadas todos os anos se as pessoas consumissem menos de 20 gramas de carne processada por dia (Thinkstock)
Um estudo europeu relaciona o consumo de carnes processadas, como salsicha, salame e bacon, a um aumento do risco de morte prematura. A pesquisa foi realizada com 448.568 pessoas de 10 países europeus, que foram acompanhadas por 13 anos. Os resultados foram publicados nesta quinta-feira, no periódico BMC Medicine.

Conheça a pesquisa

ONDE FOI DIVULGADA: periódico BMC Medicine
QUEM FEZ: Sabine Rohrmann, Kim Overvad, H Bas Bueno-de-Mesquita, Marianne U Jakobsen, Rikke Egeberg, Anne Tjonneland, Laura Nailler, Marie-Christine Boutron-Ruault
INSTITUIÇÃO: Universidade de Zurique, Suíça
DADOS DE AMOSTRAGEM: 448.568 homens e mulheres de 10 países da Europa
RESULTADO: Para cada aumento de 50 gramas no consumo diário de carnes processadas, o risco de morte prematura aumenta 18%. Os riscos de morte por câncer e doenças cardiovasculares também foram aumentados: 11% para câncer e 30% para doenças cardiovasculares.
De acordo com os autores, uma dieta que envolve o consumo de uma grande quantidade de carne processada está relacionada a outras escolhas pouco saudáveis. Os dados mostram que as pessoas que consomem mais desse tipo de carne ingerem menos frutas e verduras e são mais propensas ao tabagismo. No caso dos homens, o consumo elevado de carnes processadas está relacionado à maior ingestão de bebidas alcoólicas.
Risco elevado – O risco de morte prematura aumentou de acordo com a quantidade de carne processada consumida, mesmo depois que os autores reduziram a influência de outros fatores, como estilo de vida. De acordo com o estudo, para cada aumento de 50 gramas no consumo diário de carnes processadas, o risco aumenta 18%. Os riscos de morte por câncer e doenças cardiovasculares também aumentaram: para cada 50 gramas a mais, o aumento do risco foi de 11% para câncer e 30% para doenças cardiovasculares.
Os pesquisadores estimam que 3% das mortes prematuras poderiam ser evitadas todos os anos se as pessoas consumissem menos de 20 gramas de carne processada por dia.
O estudo, realizado com dados da Investigação Europeia de Perspectivas de Câncer e Nutrição (European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition), também analisou as consequências do consumo de carne vermelha fresca e de aves, e não encontrou relação significativa.

 

Cientistas detectam mal de Alzheimer antes dos sintomas aparecerem


Alteração no cérebro leva a diagnóstico 25 anos antes da idade prevista para o desenvolvimento da doença.


Um  grupo de cientistas americanos desenvolveu uma técnica para detectar sinais do mal 

de Alzheimer 25 anos antes da doença apresentar seus primeiros sintomas.

A pesquisa é a porta de entrada para novos tipos de tratamentos precoces que podem se 

tornar a melhor chande da medicina para combater a enfermidade.

Os cientistas, da Escola de Medicina da Universidade de Washington, selecionaram para o 
estudo pacientes britânicos, americanos e australianos que possuem risco genético para 
desenvolver a doença.
Dos 128 pacientes examinados, 50% têm chances de herdar uma das três mutações 
genéticas conhecidas pela ciência que provocam o mal de Alzheimer.
O grupo também tem chance aumentada de começar a sofrer da doença a partir dos 30 ou 
40 anos - muito mais cedo que a maioria dos pacientes de Alzheimer, que desenvolvem o 
mal na casa dos 60 anos.
Os pesquisadores analisaram os pais dos pacientes para descobrir com que idades eles 
haviam desenvolvido a doença. A partir disso começaram a tentar avaliar quanto tempo 
antes disso era possível detectar os primeiros sinais da enfermidade.
Foram realizados exames de sangue, de líquor (fluído espinhal), de imagens do cérebro e 
também avaliações de habilidades mentais nos pacientes.
Os pesquisadores descobriram, então, que era possível detectar pequenas mudanças no 
cérebro de quem possuía alguma das mutações que no futuro levarão ao surgimento do 
Alzheimer.
Por volta de 15 anos antes do aparecimento da doença, pacientes já apresentavam níveis 
anormais de uma proteína de células que podem ser encontradas no fluído espinhal.
Além disso, imagens do cérebro revelaram encolhimento em algumas regiões do cérebro 
desses pacientes.
Dez anos antes dos primeiros sintomas foram detectados problemas de memória e um 
processamento anormal da glicose no cérebro dos estudados.
Em pacientes que não possuiam as mutações, não foram detectadas alterações nesses 
marcadores.
Os resultados da pesquisa foram publicados no New England Journal of Medicine.
"Essa importante pesquisa mostra que mudanças-chaves no cérebro, relacionadas à 
transmissão genética da doença acontecem décadas antes do aparecimento dos sintomas. 
Isso pode gerar grandes implicações para o diagnóstico e o tratamento no futuro", afirmou 
Clive Ballard, diretor de pesquisa da Sociedade de Alzheimer.
"Os resultados de pacientes com Alzheimer herdado por fatores genéticos parecem 
similares às mudanças provocadas em casos não-genéticos, na forma comum da doença", 
disse Eric Karran, diretor de pesquisa da Sociedade Britânica do Alzheimer.
"É provável que qualquer novo tratamento para Alzheimer deverá ser começado mais cedo 
para ter a melhor chance de sucesso".
"A habilidade para detectar os primeiros estágios da doença de Alzheimer não só permite 
que as pessoas planejem e tenham acesso aos cuidados e tratamentos existentes mais cedo, 
mas também permitirá que novas drogas sejam testadas nas pessoas certas, na hora certa".

A importância da relação médico-paciente


Antonio Carlos Lopes

Quando nos reportarmos a um passado não muito distante, lembramo-nos de como era habitual a existência de uma relação muito forte entre o médico, o paciente e os seus familiares. Aquele médico da família, que acompanhava todos os seus integrantes ao longo da vida, não existe mais. Ou restam pouquíssimos. E, infelizmente, depois do avanço da tecnologia, alguns passaram a admitir que o computador e a ressonância magnética, por exemplo, desempenham papel mais importante do que a atuação do médico. Qual a necessidade de conversar com o paciente quando é possível colocá-lo dentro de uma máquina e enxergá-lo por dentro?

Não nos podemos esquecer de que a ressonância magnética não é capaz de indicar, por exemplo, as condições sociais e culturais do doente. Também não é capaz de diagnosticar tudo o que acontece com ele. Cito como exemplo casos de síndrome do pânico: o indivíduo geralmente reporta um quadro de doença instalada e profundo mal-estar, mas os exames não indicam nenhuma anormalidade. Nesse caso, o bom diagnóstico é feito somente pela anamnese e por meio da relação entre o médico e o paciente.
A tecnologia avançada, a despeito de todos os seus benefícios, acabou colaborando para o esfriamento dessa importante interação. E, por acreditar profundamente nisso, tenho, pessoalmente, procurado trazer à baila a discussão desse tema em congressos e campanhas no âmbito do associativismo e da academia.
A busca pela valorização do envolvimento entre o médico e o paciente trouxe também para a superfície o debate sobre a importância do humanismo na prática médica. Acima de qualquer atitude, o médico precisa focar menos na doença, na tomografia, na ressonância magnética e mais no doente, que é a razão da sua existência profissional. Nestes tempos de grande avanço econômico e tecnológico, nada substitui o tratamento humanizado e nada é mais importante do que a medicina à beira do leito.
A relação médico-paciente é uma interação que envolve confiança e responsabilidade. Caracteriza-se pelos compromissos e deveres de ambos os atores, permeados pela sinceridade e pelo amor. Sem essa interação verdadeira não existe medicina. Trata-se de uma relação humana que, como qualquer outra do gênero, não está livre das complicações. Muitas vezes o indivíduo que está doente já procurou diversos profissionais que, em inúmeros casos, nem sequer olharam para o seu rosto. É uma das dificuldades que precisam ser enfrentadas no momento da abordagem inicial.
A medicina não é apenas ciência. É também arte. Frequentemente o paciente chega ao consultório do médico e não consegue dimensionar o quanto aquele momento é importante na sua vida. Sai do escritório correndo, muitas vezes esquece o que precisa dizer ao médico, chega nervoso porque precisa voltar ao trabalho. Isso é bastante comum, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS). Aí o problema se torna mais complicado ainda, porque cada consulta não passa de 15 minutos. Às vezes não há sequer cadeira para o doente se sentar.
Nossa obrigação, como médicos, é estabelecer uma interação com o paciente, não importam sua classe, sua cor ou seu credo. Esse profissional precisa estar pronto para enfrentar as adversidades, quando o paciente contesta. E este está exercendo o seu direito. Também há situações em que o doente chega acompanhado de uma terceira pessoa que adquire papel de intermediária e, por conseguinte, interfere na relação médico-paciente. Ainda em outro momento, o paciente chega visivelmente aborrecido, com as mãos geladas, nervoso, porque já aguarda na sala de espera há algum tempo. Com tantas dificuldades, como o médico faz para criar um ambiente agradável e propício para receber o doente e interagir com ele? Sem esse contato não é possível estabelecer um diálogo e desenvolver uma anamnese adequada. Precisamos lembrar-nos de que 70% de todos os diagnósticos são advindos da anamnese.
Qual seria, então, a melhor maneira para permitir a fluidez dessa relação médico-paciente? No meu consultório, uma das estratégias é buscar aproximação por meio de temas do cotidiano, como o futebol. Conversas sobre a profissão também ajudam a relaxar o doente. Após cerca de 15 minutos, ele está totalmente tranquilo, o que se percebe pela respiração mais lenta e pela mudança no semblante. Esse é o momento ideal para o início da anamnese. O que é necessário é desarmar o paciente quando ele se encontra agressivo, cansado, com medo ou simplesmente descrente, por já ter procurado diversos outros profissionais que não souberam ouvi-lo e respeitá-lo.
É tempo de recuperar as nossas raízes, de resgatar o bom e velho médico e as suas principais qualidades, sem, é claro, abrir mão de toda a modernidade a que temos direito. O resgate da humanização, tão bem inserida naquele contexto de antigamente, deve pautar sempre a prática da medicina, com o principal objetivo de oferecer assistência digna e de qualidade à população.
Para ser médico é preciso gostar de gente. Saber que não existem doenças, e sim doentes. Exercer essa profissão é pôr em prática o amor ao próximo. O doente deve morrer de mãos dadas com o seu médico e este necessita de tranquilidade e de ferramentas ideais para um atendimento no qual possa oferecer o melhor do seu conhecimento, toda a sua atenção e, principalmente, todo o seu respeito. Ele precisa de tempo suficiente para conhecer o paciente, descobrir suas queixas, averiguar seu passado, seus anseios e suas angústias. E fazê-lo sair aliviado, com a perspectiva de ter seu problema solucionado.
Dar e receber assistência médica de qualidade e universal, mais do que um anseio, é um direito de todos.
* DIRETOR DA ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP), É PRESIDENTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA