quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Os caminhos para a longevidade estão ao seu alcance



Exemplos nos mostram que podemos manter mente e corpo sãos, à medida que o tempo passa


Maria de Fátima Cruz, tem 64 anos, só este ano ganhou 28 medalhas em competições de corrida.
Foto: Bia Guedes
Maria de Fátima Cruz, tem 64 anos, só este ano ganhou 28 medalhas em competições de corrida.BIA GUEDES
Certa vez, o espanhol Pablo Picasso disse que, para ser jovem, é preciso muito tempo. O artista, aos 87, fez uma série de 347 gravuras em sete meses. No seu aniversário de 90 anos, mostrou as obras no Louvre, fazendo história como o primeiro artista vivo a expor no famoso museu francês. Nesta quinta-feira em que se comemora o Dia do Idoso, O GLOBO-Zona Sul presta a sua homenagem a essas pessoas tão cheias de vitalidade.
Qual seria então o segredo vital de Picasso, como ele conseguiu se manter vibrante? Para responder a essa pergunta, fomos em busca de personagens que estão na estrada da vida há algum tempo, porém não associam a velhice à lassidão e se lançam em aventuras instigantes, seja em terra firme, no mar, no ar, e até mesmo nas inúmeras janelas da internet.
Desbancando quase todos os rivais de sua categoria na maioria das provas de corrida pela cidade, está Maria de Fátima Cruz, de 63 anos.
— Tenho 28 medalhas, que conquistei só este ano. Ganhei por três anos consecutivos o Campeonato Estadual de Atletismo Master e fui campeã duas vezes dos Jogos Brasileiros Master — conta a jovem senhora, exibindo as medalhas no peito.
Fátima conta que corre há cinco anos e tem orientação profissional de Evaristo Martins, que a treina todos os dias na Praça Paris, na Glória.
— Quase todo idoso pode correr, é uma besteira achar que a idade é um impedimento. É claro que tudo deve ser feito sempre com o aval do médico.
Já o engenheiro Edison Guimarães tem o mar como sua dupla perfeita. Já pegou jacaré, nadou, velejou, mas foi no surfe que se encontrou, há três anos.
— É um prazer físico e mental. Esqueço o mundo quando estou surfando e chego renovado ao escritório — diz ele, aos 65 anos, recém-chegado de uma viagem à Costa Rica, onde foi surfar com 20 amigos do Arpoador.
Além de toda a vantagem do exercício físico, as atividades em grupo costumam ser fundamentais para a longevidade no âmbito social e mental. O psicólogo Bruno Fernandes Barcellos, que coordena o projeto “Envelhe-sendo”, afirma que há muito preconceito ainda em relação à velhice, mas é possível vencer essas barreiras culturais.
— Às vezes, os próprios idosos têm preconceito uns com os outros. Cada um envelhece da maneira que pode e quer, vai depender do acesso à saúde e à informação. Dizer que temos de nos manter joviais é um equívoco, há adolescentes depressivos. Não é a idade que o mantém feliz, e sim o que você faz para estar pleno e saudável — diz.
É por isso que a aposentada Maria Carmem Rocha, de 70 anos, tratou de movimentar as ideias e contratou Ednílson Beserra para lhe dar aulas de Facebook em sua casa:
— Não queria ficar fora da tão falada convergência digital. Se estou viva, também sou desta época marcada por novidades tecnológicas e digitais.
Carmem confessa que foi difícil no início, pois a linguagem fugia completamente de tudo que tinha vivido, mas acabou achando um elo que lhe era familiar e se apegou às teclas para continuar evoluindo.
— Observei que o teclado era igual ao da máquina de escrever. Fiz o curso “Hamilton de datilografia”. Eu era uma das melhores da turma na época — conta, orgulhosa.
Outra alegria dela é poder reencontrar amigos dos áureos tempos de juventude:
— Achei uma amiga com quem não falava há 20 anos. Aproveito o Skype para conversar com minha afilhada que mora nos EUA. Minha coordenação motora também está tinindo, me sinto digitalmente incluída.
Outro exemplo de inquietude virtuosa é o da guia turística Lycéia Monteiro. Ela tem 80 anos e acaba de voltar de um tour por Dinamarca, Suécia, Rússia e França, onde trabalhou pela empresa Qualitá Viagens, levando um grupo de idosos para aventuras espirituais e turísticas.
— Sou freelancer nesta empresa há 11 anos, conheço o mundo todo. Às vezes, chego a pegar 12 horas de fuso horário, preciso me manter atualizada sobre câmbio e moedas, falo diversos idiomas — diz a aposentada, que elegeu Singapura e Hong Kong como o roteiro mais eletrizante, e Israel como o mais emocionante de sua vida até hoje.