sábado, 25 de agosto de 2012

Envelhecer é mais difícil para os homens.


Envelhecer é mais difícil para os homens.


RIO - A procura excessiva das mulheres por produtos anti-rugas e cápsulas rejuvenescedoras pode fazer com que muitos pensem que entrar na terceira idade seja assustador apenas para o sexo feminino. Mas, uma pesquisa feita pelo Centro de Informação Científica e Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz, coordenada pela socióloga Dália Romero, mostra que os homens têm mais dificuldade para encarar os desafios que chegam com o avanço da idade. O estudo foi realizado através de fontes oficiais do Ministério da Saúde e teve como base a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD).
Os dados revelam um embate de comportamento e de estilo de vida. De acordo com a socióloga, o envelhecimento não está ligado à vaidade, mas a questões culturais e de saúde. No Brasil, a expectativa de vida das mulheres é maior do que a dos homens. Enquanto elas vivem, em média, 75 anos enquanto seus parceiros vivem 67 anos.
- Essa diferença na expectativa de vida é causada por fatores culturais relacionados à violência, a acidentes de trânsito e ao abuso de álcool ou de fumo, que os homens estariam mais sujeitos - afirma Dália.
Além disso, segundo a socióloga, os homens vão menos ao médico, deixando de prevenir algumas complicações de saúde.
- A negligência masculina em buscar um médico faz com que os homens sejam responsáveis por um maior número de internações em situações graves e procurem mais os serviços de emergência - alerta a socióloga.
De acordo com o estudo, o número de mortes entre os homens é maior do que entre as mulheres não apenas na terceira idade, mas em todas as faixas etárias. Os dados apontam que a cada quatro mortes de indivíduos entre 20 e 29 anos, três são de homens.
Dados do PNAD mostram que enquanto oito em cada dez mulheres vão ao médico, apenas cinco entre cada dez homens checam sua saúde. Outro levantamento ligado à saúde dos idosos mostra que, em São Paulo, por exemplo, apenas 20% dos homens acima dos 65 anos nunca fumaram, enquanto o índice feminino é de 80%.
Dália lembra ainda que os homens raramente conseguem viver sozinhos após os 65 anos, o que reforça a dificuldade dos homens em envelhecer. Para eles, a aposentadoria significa perder sua função social, caindo no sedentarismo e por isso fica mais sujeito à depressão.
- O envelhecimento está ligado diretamente à questão cultural. Hoje em dia, mesmo com todas as mudanças, as meninas são educadas para cuidar do lar, ser carinhosas. O homem, ainda é o provedor da família, é o sadio, a fortaleza da casa. E isso tem grande peso na hora de enfrentar uma incapacidade, ou doença, e o envelhecimento em si.
O homem que passa a vida inteira preocupado com o trabalho perde um pouco o rumo quando não tem mais uma ocupação fixa.
- A nossa sociedade não prepara o homem para ficar em casa e cuidar dos filhos, muito menos em se ocupar com atividades domésticas ou artesanais. Ele fica sedentário e sem perspectiva porque não sabe fazer muito além do que a atividade profissional que exercia antes - destaca.
A pesquisadora aponta que outra desvantagem do homem para encarar a terceira idade está na alta capacidade de a mulher usar a rede de apoio como a família, os amigos, a igreja etc.
- A mulher está muito mais ligada à família. O fato de os homens se divorciarem mais após os 60 anos e casarem com mulheres muito mais jovens também debilita a rede de apoio. Ele corre o risco de, quando ficar doente, acontecer uma nova separação. E aí volta a problemática com a família, porque ele perdeu o vínculo com os filhos, tem dificuldade para morar sozinho e não tem desembaraço para as atividades domésticas - diz.
Uma sugestão da socióloga para fazer a chegada da terceira idade menos traumática para os homens é trabalhar o clico da vida desde cedo e mudar a construção da subjetividade do compromisso do homem e da mulher na sociedade.
- É preciso uma nova educação. A sociedade não sabe envelhecer. Temos uma cultura do imediato, da aparência. Não somos culturalmente educados para pensar em etapas posteriores da vida. É preciso modificar o papel do homem na sociedade. Isso é fundamental para um bom envelhecimento - conclui.
De acordo com a pesquisa da Fiocruz, o número de mulheres a mais do que o de homens, em 1980, estava em cerca de um milhão, e em 2000, já atingia a casa dos três milhões. Já para 2050, a estimativa é de que o excedente feminino no país ultrapasse a casa dos oito milhões.

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